O maior conto já escrito.

F.
2 min readJul 24, 2020

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Nosso herói deseja ser o autor do maior conto já escrito. E não apenas escrever um conto, mas exsudar um conto. Que como o suor, as palavras saíssem por seus poros. Nosso herói se senta à sombra daquilo que chama de árvores literárias e espera que lhe caia sobre a cabeça a ideia que necessita, da mesma forma que aconteceu com Isaac Newton na história apócrifa da descoberta das leis da gravidade.

Nosso herói se ressente dos novos autores aos quais divide em duas categorias, dizendo que os primeiros, que considera autores bibliográficos, seriam mais úteis se entregassem ao leitor o nome dos autores de quem roubaram as ideias. São tecnocratas que escrevem pelo pão de cada dia, sem originalidade alguma, presos a formatos já consagrados de escrita. Um tipo não suportaria as dores das privações sofridas por um Kafka, ou mesmo a negação do reconhecimento por suas obras que sofreu um Lima Barreto.

Quanto a segunda categoria é composta pelos livres-pensadores de porcaria nenhuma. Um tipo que se vê como um justiceiro literário, amontoando palavras sobre liberdade e amor, enquanto vive preso numa confusão de emoções. O exemplo claro dessa categoria está nos escritores de poesia que mentem para si dizendo que escrevem poesia em verso livre pra fugir da opressão da métrica, quando na verdade escrevem em verso livre porque são incompetentes para metrificar qualquer coisa. Rebeldia é escrever usando métrica francesa disfarçado de verso livre em inglês como fez T. S. Elliot. O resto é só afetação de revolução.

Nosso herói foge de tudo isso. Sabe bem que mesmos os grandes gênios só escreveram dois ou três textos que valem a pena serem lidos. E portanto se resguarda. Escreve profusamente, mas não publica, pois ainda está ajeitando suas ideias e suas vírgulas. Joga-as para a esquerda e para a direita como faz um bom político. Sabe que sua obra magna chegará até ele, como uma maça caindo na cabeça.

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F.

First you take a drink, then the drink takes a drink, then the drink takes you. — Fitzgerald.